Por razões múltiplas, quase todos os cânticos de Advento e de Natal costumam tocar profundamente o coração dos cristãos. Entre estes cânticos um se constitui numa espécie de interpelação incisiva em relação às promessas divinas de que os tempos messiânicos iriam criar condições propícias para uma nova humanidade. Como bem expressava o profeta Isaías, até os animais ferozes iriam se reconciliar.
É verdade que mesmo nos dois mil anos marcados pelo cristianismo milhões e milhões de pessoas foram massacradas em inúmeras guerras e ou vítimas de outras formas de violência. Ainda que as marcas da invasão do Iraque estejam muito longe de serem apagadas e ainda que muitas outras tensões continuem presentes, ainda que a crise financeira venha assustando a quase todos, nos últimos meses de 2008 apareceram sinais de esperança nos horizontes da humanidade.
Um primeiro sinal de esperança foi esboçado exatamente em função da crise financeira: presidentes e ministros da economia das 20 nações consideradas mais desenvolvidas tiveram que sentar juntos, para confessar sua ignorância e buscar juntos alguma luz no fundo do túnel.
Um segundo sinal de esperança está ligado ao resultado das eleições presidenciais nos USA. Ao que tudo indica estamos às vésperas de uma grande virada histórica, sob todos os aspectos. Ainda que seja temerário depositar esperanças demais sobre os ombros de uma só pessoa, de alguma forma as grandes aspirações e as grandes soluções costumam estar vinculadas a uma ou a algumas pessoas com forte liderança.
Um terceiro sinal de que, apesar dos pesares, poderíamos celebrar as festividades de Natal e Ano Novo com relativa tranquilidade, vinha do fato de alguns focos de tensão haverem perdido sua força nas últimas semanas do ano.
E poderíamos encontrar ainda outros sinais de esperança. E eis que, justamente no período das festividades natalinas acontece a manifestação de uma das grandes contradições da história: justamente na terra de Jesus, justamente quando milhões de pessoas no mundo todo festejavam seu nascimento, um exército aparelhado com os armamentos mais sofisticados invade a faixa de Gaza.
Aqui não vem ao caso emitir julgamentos sobre quem é mais ou menos culpado pelas tensões consideradas em si mesmas. Todos sabemos que subjazem razões múltiplas e complexas. Mas o mundo todo está compreendendo que, depois dos tempos de Herodes, poucas vezes na história se assistiram cenas mais chocantes do que aquelas que presenciamos no dia a dia da invasão de Gaza, com o massacre de mulheres e crianças.
Face à tudo isto se compreende que os mesmos que conduziram a invasão do Iraque conseguiram não apenas massacrar uma nação: conseguiram anular uma instituição como a ONU, que ao longo das últimas décadas tantas vezes tinha exercido um papel mediador, utilizando-se da força, mas em favor da paz.
Em suma, de maneira incisiva temos que voltar a interpelar nosso Deus soletrando aquilo que cantamos no Advento: “quando virá Senhor o dia....?” em que todas as pessoas serão tratadas como gente e todas as criaturas serão tratadas como irmãs.
Prof. Dr. Frei Antônio Moser
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