quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

A MÍNIMA HISTÓRIA DA PEQUENA LIMPADORA DE MOEDAS

A pequena limpadora de moedas fazia o mesmo trabalho todos os dias, do nascer ao pôr-do-sol. Sentada num caixote e com um pequeno pano branco enrolado no indicador, ela limpava cada uma dos milhares de moedas de cobre, já enegrecidas, que aguardavam numa pilha, a sua hora de serem polidas.

Fazia seu serviço com boa vontade e alegria. Apenas limpava moedas. Delicadamente esfregava o pano sobre o metal que ia revelando seu brilho, enquanto liberava uma nódoa preta que grudava no tecido claro. À medida que retirava a cor do tempo incrustada nas moedas, a pequena limpadora se detinha com atenção sobre elas, observando suas texturas e as inscrições que traziam no seu corpo.

Ali estavam as marcas. As três torres; o cheiro da Arábia; a quentura da África; o exotismo da Turquia; as estepes russas; as geleiras canadenses; o V, o O e o C nas hastes de 1746. O tempo escorria entre seus dedos: 1794... 1837... 1898. De cada tempo uma memória; de cada memória uma história que se juntava à outra, à outra, à outra mais.

Um dia chegou à sua mão uma moeda diferente de todas as que já haviam passado por ela. No centro, um vazio em forma de um quadrado. A pequena limpadora levou-a a altura do seu olho direito e fechou o esquerdo, como um gato, para ver melhor.

Passou pelo buraco, uniu o céu à terra, o ouro à prata e descobriu o mundo.

Cléo Busatto

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