Quando começa um ano novo, começamos também a sonhar com o passado e o futuro. Como avançamos mais um ano de vida, sabemos que mais próxima está a irmã morte corporal. Recordar é viver, já diz o ditado popular. E recordo: minha infância em Copacabana, estripulias na praia do Leme, onde morávamos, bem em frente ao mar. Naquele tempo, a praia era bem mais perto da Av. Atlântica, pois era só uma estreita via, mão e contramão. Só bem mais tarde alargaram para duas mãos. Lembro-me das peraltices da turma dos meninos da minha rua, das brincadeiras de tocar a campainha dos edifícios e da raiva dos porteiros da nossa molecagem. Vindo para Petrópolis aos 10 anos de idade (Meu Deus! Já faz 64 anos...) de cara estranhei o frio e a umidade do inverno daquela época. Era muito mais frio e úmido aqui na serra. O povo, mais educado, mas bem menos comunicativo e mais retraído. O Petropolitano se acha meio carioca. Boa piada. Em verdade ele é 40 % mineiro, 40% paulista e somente 10%, se tanto, carioca. Cumprimentos efusivos, só para os enturmados. Se não for conhecido, não merece nem um oi. Bom dia, idem. Provavelmente é o efeito do enclausuramento das montanhas, que abafam os sentimentos. No Rio, o sol brilha, o vento é fresco, a cabrocha requebra na praia, o samba corre solto, a gargalhada e o riso também. Há mais comunicação em geral. Saudades do meu tempo da faculdade de medicina, a UFRJ, que antigamente chamávamos de Faculdade Nacional de Medicina, na Praia Vermelha. Era um espetáculo: prédio de três andares de teto altíssimo, com corredores enormes e muito largos, com quadros também enormes e belos adornando os corredores. Anfiteatros do tipo europeu, grandes e espaçosos. Das salas de anatomia, dissecávamos os cadáveres vendo a vista magnífica da Praia Vermelha. Saudades dos colegas, que vinham de todas as partes do Brasil, naquele inicio do curso, nos idos de 1957. Saudades até do bandejão, onde almoçávamos (ainda bem, pois a grana era curtíssima...) Eu batia um prato fundo com gosto e ainda chorava um pouco mais do gajo que nos colocava a boia. Saudades da convivência com os colegas em especial do Jose Carlos Spielmann, meu colega de quarto que alugávamos no Flamengo. Devo a ele o estímulo para um estudo firme. Apostávamos a boa aposta: quem estudava mais, quem aprendia mais... O meu namoro com a Anna Amelia, minha mulher: olhos azuis, rostinho angelical, delicada, educada, carinhosa, amorosa, linda! Saudades do ardor dos primeiros tempos de namoro. Como nós queríamos nos casar e não podíamos, pois quem casa, quer casa e grana para viver e naquele tempo eu era mais duro que peroba do campo, não tinha ainda me formado médico. Já formado, lembro-me dos primeiros tempos do exercício da clínica em Petrópolis, bons tempos que já se foram na fumaça dos tempos passados. O nascimento da minha filha, a Patrícia! A parteira assistente, a vovó Conceição, com a menina recém-nascida no colo, mostrando-a para mim: “É a sua cara, Dr. Feitosa...” E a garota crescendo, sempre muito alegre e sapeca, personalidade marcante, uma graça! E o futuro, o que nos reserva o futuro? Como fazer para que a vida melhore, a economia cresça, e povo melhore sua educação e saúde? A resposta como sempre, começa em casa. Se você melhorar, tudo melhora. Acredite que a verdadeira evolução para melhor do país inteiro começa por você próprio. Acredite mais no seu taco, aprimore o seu corpo e o seu espírito. Estude, se esforce para aumentar sua aptidão no seu trabalho, aumente o valor do seu ofício. Abra o seu coração para sua esposa e filhos. Entenda que o seu próximo é seu irmão em Nosso Senhor Jesus Cristo e que você só será inteiramente feliz quando se doar a ele. Viva tranquilo e confiante nas palavras Dele: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” Não tema a senhora morte: ela é a passagem necessária para podermos chegar aos braços amorosos do Pai. Vamos nos tornar, neste ano que começa, uma pessoa mais alegre, mais laboriosa, mais esperançosa, mais amorosa. Eu confio em você.
Médico Psicoterapeuta.
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